O Pequeno-Almoço na Casa do Zé: Um Sabor de Infância
Uma
das coisas que mais gosto nas idas à casa do Zé é, sem dúvida, o seu
pequeno-almoço. Não se trata de uma refeição sofisticada, nem de receitas
tiradas de livros de culinária gourmet. Mas há algo de especial, quase mágico,
nas suas torradas.
Sempre que dou a primeira dentada, sou
imediatamente transportado para a cozinha da minha avó materna, nos anos 90.
Não sei exatamente como o Zé as faz – se é o pão que usa, o tipo de manteiga,
ou o ponto certo do tostado – mas o sabor é inconfundível. É o sabor da
infância.
Tinha seis anos. Sentava-me à mesa, ainda meio
sonolento, enquanto na televisão passavam os desenhos animados da RTP2 – ora
era o “Tom Sawyer”, ora “Os Três Mosqueteiros”. A minha avó, com aquela
paciência ternurenta que só as avós têm, trazia-me as torradas bem quentinhas,
estaladiças por fora e macias por dentro, com a manteiga derretida a escorrer
nas bordas.
E agora, tantos anos depois, cada visita ao
Zé tem esse ritual quase sagrado: café acabado de fazer e torradas que são
muito mais do que pão e manteiga. São memórias vivas. São um regresso
inesperado à infância, à segurança dos dias simples, ao carinho de quem já
partiu mas continua presente nos pequenos detalhes do quotidiano.
Talvez o Zé nem saiba o que provoca em mim
com esse gesto simples. Mas é isso que torna tudo ainda mais bonito.
Às vezes, basta uma torrada para voltar no tempo.
André Vilaça
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