Dean DeBlois: O Christopher Nolan da Animação por André Vilaça
O primeiro filme que vi do Dean DeBlois
foi no cinema de Paredes: o conto chinês da Disney, Mulan. O
filme trazia o ambiente oriental da história em tom musical, com a jovem
chinesa que se alista no exército para salvar o pai doente de ir para a guerra.
O estilo da animação, as músicas e a maneira como Dean contou a história da
Mulan foram incríveis. Depois de Mulan, perdi o interesse pelos
filmes da Disney tradicionais e só voltava a assistir se tivessem o selo da
Pixar.
Naquela
altura, O
Príncipe do Egipto, da DreamWorks, com o seu tom musical e mais
realista – tal como Anastasia, da Fox – começou a afastar-me ainda
mais do estilo clássico da Disney. E quando veio Shrek (I e
II), com a sua sátira aos contos de fadas e princesas da Disney, foi a
confirmação de que era possível inovar dentro da animação.
Depois chegou a trilogia Como Treinares o Teu Dragão,
dirigida por Dean. O primeiro filme foi excelente, o segundo mais sombrio –
considerado por muitos o "Império Contra-Ataca" da animação, a par
com Kung
Fu Panda 2 – e o terceiro encerrou a saga de forma perfeita,
provando que não existe “maldição do terceiro filme” quando há uma boa história
e direção consistente.
Há cerca de um ano, descobri que Dean tinha co-realizado, com o diretor
de “Robô Selvagem”, o maravilhoso Lilo & Stitch. Este foi um
filme da Disney diferente, talvez o primeiro sem o típico formato musical. A
Disney, na altura, queria manter o padrão, mas Dean, de forma genial, resolveu
incorporar músicas do seu cantor favorito, Elvis Presley, criando algo único.
Infelizmente, o sucesso do filme levou a continuações e séries que desgastaram
a essência original, culminando com um live-action que, na minha
opinião, enterrou de vez o legado da obra. Ainda há até quem diga infelizmente que o
segundo Lilo
& Stitch é melhor que o primeiro, tal como há quem diga que O Rei
Leão 2 é melhor que o original…
Agora, Dean assumiu o desafio de realizar o live-action
de Como
Treinares o Teu Dragão. E provou que, quando o próprio realizador
da versão animada está ao leme, a fidelidade e a paixão podem fazer um live-action
resultar.
Para mim, Dean DeBlois é o Christopher Nolan da animação. Todos os seus
filmes – mesmo os dirigidos ao público infantil – são perfeitos. Ele foi também
um dos responsáveis por Atlântida: O Continente Perdido,
um filme da Disney subestimado e pouco compreendido na época.
Recentemente vi um vídeo onde ele fala dos seus filmes preferidos de
todos os tempos. Fiquei impressionado com a forma como descreveu O Clube
dos Poetas Mortos, seu filme favorito. Falou com uma paixão tão
intensa que fui revê-lo com outros olhos – e o filme ganhou um novo significado
para mim. Curiosamente, a sua animação preferida é Anastasia
(1997), um marco que provou que qualquer estúdio – não só a Disney – poderia
criar uma princesa memorável baseada numa personagem real.
Por tudo isso, se o Nolan é o realizador com quem mais discuto com o Zé,
Dean DeBlois é, sem dúvida, o meu realizador de animação preferido.
André
Vilaça
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