Uma Aventura na "Estação de Aveiro" uma odisseia moderna, daquelas que nos fazem sentir vivos

 

 Há onze anos, eu vivia insistindo com o meu melhor amigo Hugo para irmos juntos à casa do Zé. Cansado de me ouvir, ele acabou por me dizer: “Pega o comboio e vai tu mesmo ter com o Zé.” Na altura, a ideia de ir sozinho até Aveiro parecia-me absurda, quase impossível. Mas um dia o Zé, com a calma que lhe é típica, disse-me que eu podia visitar a casa dele quantas vezes quisesse, bastava apanhar o comboio. Resolvi experimentar e, desde então, nunca mais parei. Mais tarde, dei um passo além e comecei a ir até Oliveira do Bairro, algo que só aconteceu graças ao incentivo do André Ferreira.

           Quero contar-vos agora uma aventura que tive na passada sexta-feira, daquelas que parecem saídas das épicas odisseias de Homero ou dos versos de Camões. Se me contassem isto há onze anos, eu próprio não acreditaria. Saí do comboio em Aveiro às 17:11, com a ideia de apanhar o das 17:44 para Oliveira do Bairro. Pensei em entrar, sentar-me e relaxar um pouco. Mas, ao chegar à linha habitual, o comboio não estava lá. O próximo só às 19:40. Entrei em modo de resolução de crise: liguei à minha mãe e pedi-lhe que ficasse ao telefone enquanto eu procurava uma solução. Andei às voltas pela estação, subindo e descendo escadas, mas só encontrava comboios para São Bento e Campanhã — nada de Oliveira do Bairro. A minha mãe, já preocupada, sugeriu que eu ligasse ao Zé para me vir buscar, mas eu recusei.     “Oliveira do Bairro não é logo ali ao lado, eu vou dar um jeito nisto,” respondi.

          Foi então que, ao subir mais uma escada, vi num painel que o comboio para Coimbra B, com paragem em Oliveira do Bairro, estava prestes a partir às 17:44, na linha 4. Desci a correr, confirmei a informação numa placa e lá fui eu. Que alívio quando entrei no comboio — lotado, mas eu estava lá dentro, feliz da vida por ter conseguido. Em vez de me assustar ou desistir, aquela correria deu-me uma adrenalina boa, como se eu fosse o protagonista de um thriller, com a minha mãe no papel do agente que me guia pelo telefone enquanto eu desarmo uma bomba imaginária na estação. Desculpem a analogia cinematográfica, mas foi exatamente assim que me senti. E sabem que mais? Quero repetir. Quero viver isto até ficar velho.

         No dia seguinte, estava eu com o Zé, sentados num banco na estação de Oliveira do Bairro. Tínhamos chegado a tempo, e eu aproveitei para tirar umas fotos. De repente, o Zé aponta e diz: “Olha ali o teu comboio, mesmo a horas.” Só que o comboio estava na linha 2, e nós na 1. Imaginem a cena: eu e o Zé a correr como loucos — ele com os seus quilos a mais, eu com as calças a deslizar pela cintura, porque emagreci e ainda não arranjei umas que me sirvam bem. Conseguimos apanhá-lo mesmo no limite. Que aventura fantástica! O meu irmão tem razão quando diz que são estes imprevistos que transformam os nossos passeios em histórias dignas de serem contadas, como aquela vez nos Açores em que o pneu furou e as peripécias que se seguiram.

Foi uma odisseia moderna, daquelas que nos fazem sentir vivos. E eu só penso em repetir.




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