História de Krisha Gotami

 

       Quando perdi minha avó materna, ouvi a história de Krisha Gotami, uma jovem que teve a honra de viver na época de Buda.

           Havia, na época do Buda, uma jovem chamada Krisha Gotami. Sua vida era simples, mas cheia de alegria, especialmente desde o nascimento de seu filho. O pequeno era a luz de sua existência, seu bem mais precioso. No entanto, a felicidade foi passageira. Quando a criança completou um ano, adoeceu gravemente. Apesar de todos os esforços da mãe, o menino não resistiu.

       Tomada pelo desespero, Krisha Gotami recusava-se a aceitar a realidade. Abraçando o corpinho sem vida do filho, vagava pela aldeia, buscando uma cura impossível. Seu luto era um grito sufocado, um pedido de socorro que ninguém podia atender.

        Foi então que um sábio da aldeia lhe falou de Buda.

        — Ele está na cidade, pregando. Se alguém pode trazer teu filho de volta, esse alguém é ele.

       Como um raio de esperança no meio da tempestade, as palavras do sábio iluminaram a mente de Krisha Gotami. Sem hesitar, ela foi ao encontro de Buda. Chegando diante dele, ajoelhou-se e, com o coração apertado, colocou o corpo do filho aos seus pés.

       — Senhor, peço-te, devolve-me meu filho!

        Buda olhou para a mulher com infinita compaixão. Sua voz era serena quando respondeu:

        — Há uma única maneira de aliviar tua aflição. Vai à cidade e traz-me uma semente de mostarda. Mas não pode ser uma semente qualquer. Deve vir de uma casa onde nunca tenha ocorrido uma morte.

       A esperança reacendeu no peito de Krisha Gotami. Sem questionar, partiu em busca da semente milagrosa.

      Chegando à cidade, bateu de porta em porta.

       — Por favor, têm uma semente de mostarda? Mas deve vir de uma casa onde ninguém jamais tenha morrido.

        Em cada casa que visitava, ouvia a mesma resposta:

        — Sim, temos sementes de mostarda. Mas nesta casa já houve morte.

        Um pai, uma mãe, um irmão, um avô… Em cada lar, alguém já havia partido. O ciclo da vida e da morte não poupava ninguém.

       Aos poucos, o desespero foi dando lugar à compreensão. Krisha Gotami percebeu que sua dor não era única. O sofrimento da perda era um fardo que todos, em algum momento, carregavam.

        Retornou ao cemitério. Lá, despediu-se do filho pela última vez. Deixou que a terra o recebesse, como recebe todas as coisas que um dia existiram. Depois, voltou para Buda.

        — Trouxeste a semente de mostarda? — perguntou ele.

         Krisha Gotami abaixou a cabeça e respondeu:

        — Não, Mestre. Agora compreendo a lição que querias me ensinar. O luto cegou-me. Pensei que era a única a sofrer com a morte, mas vejo agora que a dor é uma companheira de toda a humanidade.

        Buda a observou com ternura e perguntou:

        — E por que voltaste?

           A jovem ergueu o olhar, determinado, e disse:

         — Para que me ensines a verdade. Quero compreender a morte, saber o que pode haver além dela. Quero descobrir o que há dentro de mim… Se há algo em mim que nunca morrerá.

         Buda assentiu e começou a ensinar:

         — Se desejas conhecer a verdade da vida e da morte, deves refletir sobre algo fundamental: há apenas uma lei no universo que nunca muda. Tudo é impermanente. Todas as coisas nascem, transformam-se e um dia desaparecem. A morte de teu filho ajudou-te a ver em que mundo estamos: o samsara, um oceano de sofrimento e constantes mudanças. Mas há um caminho, um único caminho, que permite libertar-se desse ciclo incessante de nascimento e morte. Esse é o caminho da iluminação.

         Krisha Gotami, agora desperta para a verdade, ajoelhou-se diante do Mestre. A partir daquele dia, seguiu-o, dedicando sua vida ao ensinamento da libertação. Diz-se que, ao fim de sua jornada, alcançou a iluminação.

        E assim, sua dor se transformou em sabedoria, e sua perda em um caminho para a verdade.

 

                                                                                                                                         André Vilaça


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