Conto Budista - O Sábio e a Sorte

 Nas montanhas serenas do Tibete, cercado por um horizonte de picos brancos e florestas densas, vivia um sábio budista com seu filho e sua única vaca, que era fonte de leite e sustento. A vida era simples, e a rotina se desenrolava em harmonia com o ciclo das estações.
Um dia, ao amanhecer, o sábio percebeu que sua vaca havia desaparecido. Ele procurou pelos campos, mas ela não estava em lugar algum. Desolado, retornou à aldeia e compartilhou a notícia.
— Que má sorte tiveste! — disseram os vizinhos, lamentando sua perda.
O sábio, com um sorriso calmo e olhar sereno, respondeu apenas:
— Quem pode dizer o que é boa ou má sorte?
Os dias passaram, e a vaca, para surpresa de todos, retornou. Mas ela não voltou sozinha: acompanhavam-na várias vacas selvagens que decidiram segui-la. Agora, o sábio tinha um pequeno rebanho, um sinal de prosperidade para qualquer aldeão. A notícia espalhou-se rapidamente, e os amigos vieram comemorar.
— Que boa sorte tiveste! — exclamaram.
O sábio, no entanto, manteve a mesma expressão tranquila.
— Quem pode dizer o que é boa ou má sorte?
Certo dia, enquanto ajudava o pai a domesticar as vacas recém-chegadas, o filho do sábio sofreu um acidente. Uma das vacas, agitada, empurrou o jovem, e ele caiu com violência, fraturando a perna. A dor foi intensa, e ele ficou impossibilitado de caminhar. Mais uma vez, os vizinhos se reuniram para consolar o sábio.
— Que má sorte tiveste! — disseram com pesar.
O sábio, impassível, respondeu como sempre:
— Quem pode dizer o que é boa ou má sorte?
Algum tempo depois, um bando de guerreiros enviados pelo rei chegou à aldeia. O reino estava em guerra, e todos os jovens foram recrutados à força para lutar. As famílias choravam, temendo nunca mais ver seus filhos. Quando chegaram à casa do sábio, os soldados viram o filho com a perna quebrada e o deixaram para trás, incapaz de servir no exército.
Quando os vizinhos souberam disso, correram para falar com o sábio.
— Que boa sorte tiveste! — disseram, admirados.
Mas o sábio, com o mesmo semblante sereno, respondeu:
— Quem pode dizer o que é boa ou má sorte?
E assim, o tempo seguiu seu curso, e o sábio continuou vivendo em paz, observando a impermanência dos eventos da vida. A aldeia aprendeu com ele a refletir sobre os acontecimentos, percebendo que a sorte e o azar são apenas rótulos que colocamos em situações cujo desfecho final desconhecemos.
O sábio não apenas questionava a sorte, mas também nos convidava a olhar para a vida com humildade e aceitação, lembrando-nos de que tudo está em constante mudança. Assim, a pergunta persiste: ele teve boa sorte ou má sorte? Ou será que tudo é apenas parte de um caminho que ainda não entendemos por completo?


Comentários