Oliveira do Bairro - Prologue
Ir à estação de São Bento, agora com as
obras, é uma verdadeira aventura. Para adentrar a mítica estação do Porto, é
preciso atravessar um labirinto de corredores improvisados. Todos em fila,
pacientemente, até que, sem percebermos, já estamos na bilheteira. Observo muitas pessoas admirando os
azulejos, maravilhados com a História
de Portugal gravada ali, nas paredes.
Me aproximo para comprar meus
bilhetes. Mostro o meu atestado, recebo o bilhete, pago e vou para a área de
espera. O comboio para Aveiro, marcado para as 12h50, está prestes a partir.
Meu lugar habitual está vazio, quase me sinto tentado a entrar e seguir viagem.
Ainda falta meia hora. Uma vez fiz isso, embarquei no comboio mais cedo, e o Zé
ficou tão surpreso e aflito! Ele ainda estava em Oliveira do Bairro, e eu já
estava a caminho de Aveiro.
Não, hoje não quero dar esse tipo
de susto. Me sento num banco e começo a comer, tentando controlar os meus
níveis de açúcar e acalmar o meu diabetes.
Finalmente, a hora combinada chega.
Levanto-me, deixo as pessoas saírem do comboio e, então, entro no meu lugar
habitual. Lembram-se da série Teoria
do Big Bang, em que o Sheldon Cooper tem o seu lugar cativo no
sofá? Bem, eu também tenho o meu no comboio.
Hoje, o comboio está relativamente
vazio, e a viagem pareceu passar num piscar de olhos. Talvez as obras na Granja
tenham terminado, porque quando percebi, já estava em Aveiro. Desci e, ao olhar
em volta, vi o comboio que seguia para Coimbra. Mas só embarco se vir que uma
das paragens inclui Oliveira do Bairro.
O comboio para Oliveira do Bairro,
como sempre, demorou a partir. Estava programado para as 15h39, mas saiu só às
15h45. Eu, sempre atento, ouço o anúncio: "Próxima paragem: Oliveira do
Bairro." Levanto-me de imediato.
Quando o comboio para, aperto o botão verde e saio.
Lá estava o Zé, como de costume,
esperando-me. Ele falava ao telemóvel, distraído. Sem hesitar, corri em sua
direção para abraçá-lo.
Assim que o abracei, senti uma onda de
alegria e emoção tomar conta de mim. Eu estava de volta a Oliveira do Bairro,
pronto para passar o dia com o Zé. E era como se um peso enorme tivesse sido
tirado dos meus ombros. Meu coração estava leve, preenchido de felicidade.
Enquanto caminhávamos em direção ao
carro, rumo à saída, mal podia conter minha empolgação. Queria contar-lhe tudo
— cada detalhe das coisas que haviam acontecido desde sua última visita. Mas,
por alguma razão, fiquei calado. O maldito autismo me prendeu a língua.
Chegamos à casa do Zé, e eu permaneci em silêncio.
Não sei bem por que, mas de repente,
lembrei-me dessa visita à casa do Zé, na sexta-feira passada. Talvez seja
porque certas lembranças, por mais que o tempo passe, permanecem vivas dentro
de nós, gravadas a fogo no nosso coração.
André Vilaça
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