A estrela que mais brilha no céu

 

         Quando vi o escritor Miguel Rocha, na semana antes do Natal, notei que ele estava mais magro, porque sempre o vi gordinho.      
           Naquele dia de Natal nunca pensei que fosse uma despedida, a nossa última despedida. Ele contou-me lendas de Portugal que nunca nos ensinaram na escola e que me fascinaram para o meu livro os "12".     
                Durante os dias que se seguiram, ele mostrava os seus dias no hospital e um aperto no coração fez-me estar preocupado. Tentei falar com ele, mas ele não me respondia. Quando fez anos, desejei-lhe um bom aniversário no WhatsApp e ele agradeceu. Em março, ele mandou-me uma mensagem dizendo que quando estivesse melhor e regressasse ao Porto ele ia tomar um café. Fiquei feliz, dissemos um até já. No dia seguinte, eu estava no meu quarto a ouvir música clássica, era o "Lacrimosa" de Mozart, o meu pai entrou no quarto e deu-me a notícia que eu temia.
           - André, o teu amigo escritor, o Miguel Rocha, faleceu, está a dar nas notícias.
           O coro do "Lacrimosa" subiu de tom e terminou quando ouvi a notícia, fiquei petrificado, corri para a sala e liguei a televisão e vi a notícia de rodapé, admito que sem contar, lágrimas escorreram pelo meu rosto, mesmo que eu tentasse limpá-las, elas teimavam em cair. A mensagem do dia anterior estava na minha cabeça, o "até já" dele. Peguei no telemóvel e falei com o Hugo, queria ligar-lhe, mas preferi mensagem, ele deu-me ânimo, nesse dia fiquei em baixo, deitei-me na cama e só saí no fim do dia. Na minha cabeça estava um filme: desde como o conheci até ao "até já". Pedi a Buda para me deixar falar com ele em sonhos, queria pedir-lhe desculpas, porque houve uma altura em que fui injusto e ele estava tão doente. Perguntei-lhe por que não me contou da sua doença, por que quando estávamos num trabalho ele deixou de falar, por que não me contaste? Desculpa, Miguel, se fui injusto. Quando nessa noite sonhei com ele, ele estava muito apressado em ir algum lado e eu não conseguia acompanhá-lo, pedia para ele esperar, caí ao chão e ele tinha desaparecido. Ainda hoje tento comunicar com a sua família e pedir desculpas em meu nome, mas nunca tive oportunidade. Uma vez fui a uma missa monumental na Sede de Viseu e quando diziam o nome das almas a que a missa ia ser dedicada, eu falei para mim mesmo o nome do Miguel Rocha. Aquela missa com coro, uma leitura da bíblia e mais música clássica e coro. Senti-me bem naquele dia, sei no fundo do coração, que o Miguel também gostou. Eu gosto de dizer que o Miguel Rocha é o meu anjo da guarda, falo muito com ele e sinto-me sempre bem.
 
                                                                                                        André Vilaça
 

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