Um conto Budista sobre dois irmãos de traz dos Montes - de André Vilaça

Existiam dois irmãos que viviam numa aldeia em Trás-os-Montes: Joaquim, o irmão mais velho, conhecido como "o Morgado", estava destinado a herdar a quinta da família. Já Alexandrino, o irmão mais novo, foi enviado para estudar na Universidade de Coimbra, com o objetivo de seguir uma carreira, pois não herdaria a quinta. Apesar dessas diferentes trajetórias, os irmãos eram gémeos e tinham uma ligação muito forte. Juntos, faziam travessuras que deixavam os habitantes da aldeia de cabelos em pé.

Quando chegou a hora de Alexandrino partir para Coimbra, Joaquim sentiu uma tristeza profunda. Ficou sozinho, com uma sensação de vazio. As cartas trocadas entre os dois irmãos eram lidas com saudades, revelando o quanto se importavam um com o outro. Nas cartas, Alexandrino falava sobre a sua revolta na universidade. Tornou-se republicano, o que o levou à prisão. O pai, preocupado, pediu ao tio que fosse buscá-lo. Joaquim, assim como o pai, era um monárquico fervoroso, fiel ao rei D. Luís de Portugal.

Após a sua libertação, Alexandrino regressou da universidade, mas não ficou por muito tempo. Ele embarcou numa viagem pelo mundo, algo que sempre quis fazer. Enquanto isso, Joaquim permaneceu na quinta, assumindo a responsabilidade após a morte dos pais. Casou-se, teve filhos, e a vida seguiu o seu curso. Alexandrino continuava a escrever, agora das ilhas dos Açores, onde se apaixonou por uma açoriana e viveu como médico na freguesia de Ponte da Garça.

Os anos passaram e, já idoso, Alexandrino finalmente conseguiu realizar o sonho de rever o irmão. Viajou para o Continente e, ao lado de Joaquim, faleceu em paz, cercado pela esposa e pelos filhos. No "outro mundo", Alexandrino percorreu os corredores da eternidade, implorando a Deus para não ir para o céu antes de reencontrar o seu irmão. Foi Buda quem lhe concedeu a reencarnação, e assim, em 1976, Alexandrino renasceu como José Luís Santos.

Joaquim, o monárquico fervoroso, em 1910, com a ascensão da república, tomou uma decisão radical. Deixou todos os seus bens para o povo da sua aldeia em Trás-os-Montes, numa tentativa de evitar que a república confiscasse a sua herança. Quando morreu, foi sepultado com humildade, sendo lembrado pelas pessoas da aldeia como "o santo pobrezinho". Joaquim também recebeu o dom da reencarnação, e em 1983, nasceu novamente como André Vilaça.

No mês de dezembro de 2012, André desceu as escadas para encontrar o seu amigo Hugo. Assim que seus olhos se cruzaram com os de Zé, sentiu algo profundo. E, naquele instante, os dois irmãos, separados pelo tempo e pela morte, finalmente se reencontraram nesta vida.                                                                                   

     

                                                                                                         André Vilaça

 

 

 

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