Siddhartha Gautama de André Vilaça

 

"Buda olhava para os seus grandes mestres, aqueles que um dia tinham sido seus Bhikkhus, e sorriu. Depois, voltou o olhar para os novos discípulos… e para o povo que viajava por toda a Índia apenas para ouvi-lo falar. Alguns vinham com perguntas, outros com dúvidas… e ele sempre tinha uma resposta. Sempre havia uma solução.

Ele estava ali, em sua última encarnação, para ensinar a grande verdade. Ele enfrentara Mara, o poderoso deus do submundo, para libertar todas as criaturas do sofrimento.

Agora, antes de transmitir seu último ensinamento, antes de descansar no derradeiro Nirvana… ele respirou fundo. Seus olhos se encheram de serenidade. Então, falou:

— Eu nasci há 80 anos, em um pequeno reino entre tantos outros. Meu pai, Śuddhodana, era um rei poderoso. Minha mãe, a rainha Maya… dizem que sonhou com um elefante branco na noite em que fui concebido.

Buda raramente falava de sua própria história… mas, naquele momento, sentiu o desejo de compartilhar.

— Como manda a tradição, minha mãe viajou para sua terra natal, no Nepal, para que eu nascesse no seio de sua família. A viagem era longa, perigosa… e então, sua comitiva parou em uma floresta. Ali, ela se aventurou entre as árvores… e, ao reconhecerem quem ela carregava em seu ventre, elas se curvaram em reverência. E assim, sem dor, sem sofrimento… minha mãe me trouxe ao mundo.

Ele fez uma breve pausa, deixando as palavras ressoarem no coração de quem o escutava.

— Quando meu pai me recebeu em seu palácio, houve uma grande festa! Até o grande sábio do reino, que há anos não descia da montanha, veio me ver. Mas ao olhar para mim… ele chorou.

A rainha se preocupou. Mas o sábio, sorrindo, a tranquilizou:

— Não se aflija, minha rainha. Estas são as lágrimas de um velho mestre… que não viverá o bastante para aprender com seu filho.

O rei, ansioso, perguntou:

— Ele será um grande rei?

O sábio sorriu.

— Ele será o mestre dos mestres.

Mas meu pai, com orgulho, levantou-me diante do povo e declarou:

— Ele pode ser o que quiser! Mas primeiro… será um grande rei!

O destino, no entanto, tinha outros planos. Minha mãe não viveria para me ver tornar-me Buda. Ela adoeceu e partiu cedo deste mundo. E assim… fui criado por minha tia, sua irmã.

E foi assim que minha jornada começou…"*




                                           

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