A Visita a Cidade de Assis – de André Vilaça


Tínhamos andado muito de camioneta para chegarmos às oito da noite em ponto ao hotel em Roma para podermos jantar em paz. Mas antes, fomos visitar uma cidade muito antiga, muito medieval, eu desconhecia qual cidade era e que iria ser muito importante para mim espiritualmente. A Dra. Alice, falando pelo microfone, nos dizia que estávamos na cidade de Assis, terra santa e de natal de São Francisco de Assis. Antes de irmos para Roma, íamos visitar Assis. Mas, por ser um local religioso, eu e meus amigos andávamos muito devagar. A Dra. simpática, ao ver o nosso ritmo lento, dizia pelo microfone para nos despacharmos, caso contrário não conseguiríamos ver a cidade nem chegar cedo a Roma. A Dra. Alice, zangada, retira o microfone e dá um ultimato.

"Eu vou contar até três, se não saírem por bem, saem à força."

Aí sim, saímos com mais rapidez. Percorremos as ruas antigas de Assis até chegarmos à igreja principal, chamada Nossa Senhora dos Anjos. Na igreja, um franciscano de nacionalidade portuguesa estava à nossa espera. Na altura, achei engraçado, porque ele parecia o Frei Tuck do filme de Robin Hood. Vestia uma batina castanha com uma cruz de madeira em forma de T, e como cinto tinha uma corda, calçava umas sandálias. De repente, aquele monge simpático começou a falar de um homem chamado São Francisco, que mudou o modo de viver o cristianismo. Ele apresentou-se:

"Bom dia, eu sou Márcio Miguel, sou Franciscano e serei o vosso guia. Primeiro, vou mostrar-vos a vida do nosso fundador, que foi um grande homem chamado São Francisco de Assis. Façam o favor de me seguir!"


Seguimos o Franciscano Márcio Miguel até a igreja de Santa Maria dos Anjos, e foi aí que fiquei maravilhado. A igreja era simples, com desenhos simples da vida do santo nas paredes. O Franciscano Márcio Miguel explicou:

"Estes desenhos são do pintor Giotto. Como veem, nesta igreja não há luxo, porque São Francisco era contra isso. Aqui está São Francisco de Assis com a Virgem e o Menino ao colo. Querem ouvir a lenda deste quadro?"

Um sim de interesse foi ouvido no meio do grupo, e ele então contou:

"Um dia, a Virgem Maria perguntou ao Menino Jesus: 'Filho, qual é o ser humano que se iguala a ti?' Então o Menino Jesus apontou para São Francisco, 'Francesco, mãe'. Como veem, São Francisco renegou tudo, até a herança de seu pai. Despiu-se da roupa e atirou-a aos pés do pai, dizendo 'Tenho a Deus e mais ninguém'. Ele amava os animais, a natureza, e sempre viveu na pobreza. Até enfrentou o Diabo, imaginem só. Ele teve visões de Cristo e reconstruiu sua igreja, tal como Cristo lhe pediu na cruz, como podem ver ali no altar. Venham comigo, vamos ver o túmulo de São Francisco."

Ao explicar que o túmulo ficava debaixo do altar, descemos as escadas e vimos o túmulo do Santo. Ao me aproximar dele, foi como se minha vida passasse diante de mim. Senti uma paz nunca antes experimentada. Aproximei-me da Dra. Alzira e pedi:

"Posso orar diante do túmulo de São Francisco de Assis?"

"Sim, podes, mas por apenas alguns segundos."

"Sinto!"

Sentei-me num banco diante do túmulo e rezei. Foi então que reencontrei minha fé, há muito perdida. Ao abrir os olhos, a Dra. Alzira disse:

"Podemos ir?"

"Sim, claro."

O Franciscano Márcio Miguel levou-nos ao mosteiro, onde caminhamos pelos corredores. Os franciscanos nos cumprimentavam em italiano, dizendo "Buongiorno". Paramos diante de uma bela estátua de São Francisco com um ninho com duas pombas. O Franciscano Márcio Miguel explicou:

"Estas pombas são descendentes das pombas que São Francisco salvou um dia. Ele deixou-as aqui neste ninho, e conta a lenda que elas nunca mais o deixaram, como podem comprovar."

Eu estava ainda mais maravilhado, e continuamos nosso caminho. Eu queria estar ali o máximo possível. Naquele momento, eu tinha reencontrado minha fé perdida. Antes de entrar na carrinha, olhei uma última vez para Assis e agradeci, sorrindo:

"Obrigado, Buda da compaixão, por me teres mostrado São Francisco de Assis."

Desde então, quis mostrar e falar de São Francisco de Assis a todos quando cheguei a Portugal. Tornei-me assim um franciscano, a crer e evangelizar com os ensinamentos de Francisco para todos ao meu redor.

Eu tenho uma coleção de São Francisco de todos os tamanhos e feitios. Gosto de ir a pé até à Ribeira, onde está a igreja e o museu de São Francisco. Já fui lá com o Zé, pelo Hugo, e voltaremos pelo Zé.

André Vilaça, 2022



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