Persival Overture

 

O meu último dia normal foi ir de manhã à beira rio do Calem a falar com o meu irmão mais velho por Messenger. Eu pouco me lembro de como começou a quarentena do covid 19. Lembro-me do Hugo a falar dessa pandemia e eu fiquei um pouco assustado, mas nunca pensei que fosse assim tão grave. Minha irmã correu para o Pingo Doce para fazer compras para 15 dias em que ela e os meus sobrinhos iam fazer quarentena. Minha mãe ia trabalhar e como ela estava doente de risco eu ficava sempre preocupado quando ela demorava a vir da Foz.  Antes da quarentena eu ainda fui com o Hugo e o Zé a casa da música ver Igor Stravinsky chamado “Pássaro de Fogo”, dias antes o Zé me tinha mandado um pequeno filme de animação com esta sinfonia e eu não desconfiava que a ia ver pela uma última vez na casa da Música antes do dito novo normal. O Covid 19 ainda não era visto como perigoso nessa altura, já se falava que se podia contagiar por estar tanta gente na sala principal, mas não era grave ao ponto de ficarmos em pânico.  Por isso eu guardo essa memória porque sinceramente não sei quando irei ver um compositor de música clássica com o Zé. Às vezes penso como as pessoas conseguem passar uma quarentena sozinhos, sem ter ninguém para conversar ou andar ao barulho. O meu primeiro dia de quarentena foi passado quando a minha mãe a fez também. Todos os dias eu ouvia a minha ópera preferida “Persival” do Richard Wagner, metia os fones e ouvia aquela ópera do Santo Graal, dos cavaleiros do rei Artur e claro do cavaleiro Persival. Uma vez na História da Opera “Persival” disseram que as irmãs Wachowskis se basearam na ópera para escrever o guião do filme Matrix. Quando o Percival encontra o Santo Graal é descrito da mesma maneira quando o escolhido Neo se torna o “Tal”.  Primeiro oiçam o final da ópera "Parsifal", depois vejam o final do filme “Matrix” e digam se não tenho razão.  É o que faz estar em quarentena a gente vê coisas que não sabíamos antes. Quando comprei o meu primeiro Blu Ray – DVD o meu primeiro Blu Ray foi a edição especial do filme “Matrix”, por isso vi os bastidores com a minha mãe a dormir ao meu lado. Revi o filme Russo da “Guerra e Paz”, um filme que foi tão fiel ao livro em todos os pormenores que o filme tem duração de mais de 4 horas, já vi muitos atores a fazerem de Pierre e o ator e também realizador russo Sergei Bondarchuk fez o melhor Pierre fiel ao livro. Pierre no livro é retratado como um gordo e nos filmes é retratado como um galã e neste filme Russo de 1966 ele é tratado como no livro. Filme bem feito e realizado, batalhas fiéis ao livro que nos deixam de boca aberta, merecido óscar de melhor filme estrangeiro. E o galã do livro e do filme é um príncipe e se chama André. Eu revi esse filme várias vezes com a minha mãe a dormir ao meu lado, quando terminava ela dizia como a Ana Guiomar no reclame da Vodafone

          - Já terminou, o que eu perdi?

           - Tudo mãe.

           - Com quem a Natasha ficou? Com o André, suponho? – perguntava ela.

           - Ficou com o gordo o Pierre o André morreu na guerra. – dava eu o spoiler

          - Que final esquisito, vou fazer o jantar.




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