Meu querido dono.

 

           

Meu querido Dono,

7 de Julho de 2021

Eu sei que não sou um exemplo de gato. Não gosto que me pegues ao colo, só quando sais para a casa de um humano chamado Zé. Tirando isso, eu odeio que me abraces e que me dês beijos. Também não gosto que me chames de meu príncipe, já que o meu nome é Pavarotti. Minha mãe também me chamava de meu príncipe porque, nessa altura, eu era um gato sem nome. Quando te conheci, soube que não eras como os outros humanos. Não compreendia porque não olhavas nos olhos da nossa família, porque não conseguias pedir uma simples cadeira à tua irmã. Depois fui sabendo que eras autista. Seria um título que recebeste por te portares bem? Com o tempo, fui vendo que era uma dificuldade que tinhas. Fui aprendendo sobre esse autismo e fazendo com que te sentisses bem com o que eu podia ajudar. Sei que ficas relaxado quando me deito ao pé dos teus pés, sei que, graças a mim, apagas a televisão quando queres dormir. Já não tens medo, mas eu sei que sou teimoso como tu e gosto de dormir na sala debaixo do cobertor do sofá. Sei também que me vens chatear para eu ir para a tua beira. Desculpa as arranhadelas que te dou e por fugir como o teu super-herói preferido, o Super-Homem, escondendo-me debaixo da cadeira ao pé do armário. Já não sou o gatinho que fazia coisas fofas para ter sorte. Não posso negar quem sou e de onde vim. Fui um gato de rua e vivi com a minha mãe e irmãos na rua. Foi uma sorte ter encontrado o teu irmão e ele ter-me levado até ti. Sei que tenho saudades da minha mãe, que fez de tudo para nos salvar do Homem. A minha mãe sempre disse que o Homem é mau, principalmente para os gatos de rua como os meus pais e irmãos. Por isso, sou um gato filho da mãe. Gosto de ti, gosto do humano Sr. Pai, de ir dormir com ele à tarde, ele na cama e eu no meu sofá ao lado. Gosto de brincar com a Humana Sr.ª Mãe. Não gosto da confusão da Humana Marta e dos seus filhos, mas se não fosse ela, não teria as unhas cortadas. Gosto dela e do fiambre que me dá quando me porto bem.

Gosto de ti, Dono. Irei estar sempre ao teu lado, venha o que vier. Sei que não me querias no princípio e agora somos inseparáveis.

Um carinho nas pernas (porque eu sou um gato),

Pavarottti Gautama Vilaça



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